09/05/2022

Resenha Literária
A filha do louco
Megan Shepherd


Autor(a): Megan Shepherd | Título Original: The Madman's Daughter | Editora: Novo Conceito
Ano: 2014 | Páginas: 414 | Skoob: Adicione | Compre: Amazon
A Filha do LoucoSinopse: Juliet Moreau construiu sua vida em Londres trabalhando como arrumadeira - e tentando se esquecer do escândalo que arruinou sua reputação e a de sua mãe, afinal ninguém conseguira provar que seu pai, o Dr. Moreau, fora realmente o autor daquelas sinistras experiências envolvendo seres humanos e animais. De qualquer forma, seu pai e sua mãe estavam mortos agora, portanto, os boatos e as intrigas da sociedade londrina não poderiam mais afetá- la... Mas, então, ela descobre que o Dr. Moreau continua vivo, exilado em uma remota ilha tropical e, provavelmente, fazendo suas trágicas experiências. Acompanhada por Montgomery, o belo e jovem assistente do cirurgião, e Edward, um enigmático náufrago, Juliet viaja até a ilha para descobrir até onde são verdadeiras as acusações que apontam para sua família.
Esse livro estava parado a tempos na minha estante. Não tinha muita curiosidade em lê-lo, até que, olhando a estante em busca de uma próxima leitura, meus olhos pousaram em sua lombada e pensei "porquê não?!". Foi uma leitura agradável, uma surpresa, uma vez que minhas expectativas eram baixas. 


O livro me prendeu desde o começo, e é escrito em primeira pessoa, sob o ponto de vista de Juliet. Ela cresceu com uma grande dúvida sobre seu pai desaparecido após um escândalo no meio científico e expedição de um mandato de prisão: que tipo de homem ele é? Um gênio ou um monstro? Quais tipos de coisas ele seria capaz de fazer? Seriam os boatos verdadeiros? A lembrança do pai e de tudo que aconteceu a persegue de modo que a vida dela praticamente gira ao redor disso, e a queda da reputação do pai afetou completamente a vida da garota, uma vez que eles perdem tudo e passam a viver na miséria. Quando vê uma oportunidade de descobrir sobre o assunto, ela agarra com todas as forças e vai, afinal não tem nada a perder.

Juliet é uma personagem agridoce. Por vezes eu relia algum pensamento dela, para ter certeza que li certo. Ela não é aquela personagem meiga, ingênua e boazinha, como estamos acostumadas. Ela não é a mocinha. Foi marcada pelo que viu e viveu e é consumida por pensamentos e vontades tão obscuras, as quais acredita ser herança do sangue do pai que corre em suas veias. 
"Tudo o que eu conseguia ver era a criatura amarrada à mesa, contorcendo-se de dor. O sangue do torturador corria em minhas veias, uma herança cruel. Apertei os dedos contra os olhos para não chorar, mas um soluço, um único soluço, escapou."
" - Você vai ficar bem - disse eu.
- Não é comigo que estou preocupado - sussurrou ele, encarando-me com olhar penetrante. - Não estou certo de que você deveria ter vindo até aqui, Juliet. Há algo errado com esta Ilha. Com seu pai."
Os outros personagens são interessantes e acho que, para personagens secundários, foram bem desenvolvidos, mas senti falta de mais aprofundamento no pai, o personagem mais intrigante. Gostaria de saber mais a fundo suas intenções e incentivos. O que leva uma pessoa a fazer o que ele faz e defender aquilo até o final, mesmo que seja errado em todos os graus e todos percebam, menos ele? Durante a narrativa vamos percebendo sua insanidade com as falas e atos, porém acho que mais aprofundamento tornaria ainda mais interessante.


A história de "A Filha do Louco" nos leva a questionar os a ética e os limites da ciência e da medicina, como o que é certo e o que é errado, o que é crueldade e o que é avanço. Eu confesso que, muitas vezes, não gostei da forma que os animais foram tratados ou mencionados, como "coisas" que merecem morrer ou não carecem de preocupação por serem, justamente, animais. Mas a própria história, ao final, mostra o erro em acreditar que somos seres superiores em relação a outras espécies e que isso nos permite fazer o que quisermos. E claro, a história nos alerta, também, para o futuro e para o que pode acontecer caso os avanços científicos tragam também cada vez mais arrogância para certas pessoas, que podem começar a acreditar que são capazes de tudo e que podem brincar com a genética e com a natureza. Como dizem, "brincar de ser Deus", o que não é uma ideia maluca: já existem pessoas assim.
"A voz da minha mãe sussurrava, dizendo-me que tudo que ele fazia ia contra os desígnios de Deus, contra a natureza. E, mesmo assim, uma parte de mim, pequena, mais poderosa, como um caco de vidro alojado no meu coração, sentia-se quase orgulhosa dele. Eu sabia que isso é errado. Mas ele era parte de quem eu era. Como era possível não sentir aquilo?"
"Sua arrogância o mataria. Talvez matasse a todos nós." 


A escrita da autora é fluida, e a história é muito envolvente. Não consegui desgrudar do livro, e, mesmo que algumas cenas no início sejam arrastadas (como quando estão em um navio por meses), o suspense do que viria a seguir manteve aceso meu interesse na leitura. Entretanto, as descrições das cenas deixaram a desejar, e se mostraram bastante confusas às vezes. Ao decorrer do livro encontrei muitos furos na narrativa, bem como erros de continuação e sentido, o que foi uma pena e justifica a perda de uma estrela na classificação. 

No início eu não sabia, mas ao finalizar o livro e ler os agradecimentos, tive conhecimento de que "A Filha do Louco" foi inspirado, bem como os nomes dos personagens foram retirados do livro "A Ilha do Doutor Moreau", do autor H. G. Wells, e fiquei com vontade de ler para entender como a inspiração surgiu para Megan.

Eu amo a capa desse livro, mas não consigo explicar ao certo porquê; acho que combina completamente com a atmosfera da história. A fonte e a diagramação são muito confortáveis, e o papel é amarelado e de muita qualidade (acho que é o livro com papel de gramatura mais alta que já vi).


Foi muito difícil escolher uma classificação,
mas acho que quatro novelinhos é uma nota justa.




A Filha do Louco
Megan Shepherd



Sobre a autora

Nome do Autor
 Megan Shepherd
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Megan Shepherd cresceu na livraria independente de sua família nas Montanhas Blue Ridge. Ela é a autora de muitos romances aclamados para jovens adultos, incluindo a série "The Madman's Daughter", a série "The Cage", "The Secret Horses of Briar Hill" e a série "Grim Lovelies". Ela agora vive e escreve em uma fazenda assombrada de 125 anos nos arredores de Asheville, Carolina do Norte, com seu marido e filhos, gatos, galinhas, abelhas e um cachorro especialmente desalinhado.

Au revoir ♡

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