Resenha de Graphic Novel Ousadas #2 - Mulheres que só fazem o que querem Pénélope Bagieu

Autoras: Pénélope Bagieu | Título Original: Culottées | Editora: Nemo
Ano: 2020 | Páginas: 168 | País: França | Skoob: Adicione | Compre: Amazon

Sinopse: No primeiro livro você conheceu Margaret, atriz "aterrorizante", especializada nos papéis mais perversos de Hollywood; Agnodice, ginecologista da Grécia Antiga que teve de se disfarçar de homem para exercer a profissão; Lozen, mulher Apache, guerreira e xamã... e outros 12 retratos de mulheres excepcionais que enfrentaram a pressão social de seu tempo e se tornaram donas de seus próprios destinos. Este segundo volume traz quinze novos perfis divertidos e sensíveis de mulheres que criaram o próprio destino. Sonita, rapper afegã e militante no exílio; Thérèse, benfeitora de senhoras parisienses; Nellie, jornalista investigativa no século XIX; Cheryl, atleta de maratona; Phoolan, líder de bando e símbolo dos oprimidos na Índia, e muitas outras personagens da vida real que quebraram preconceitos. Essa é a conclusão da série que é sucesso de público e crítica. 

"Ousadas #2" é o segundo livro de uma duologia que reúne, sob o traço da quadrinista e ilustradora  francesa Pénélope Bagieu, histórias reais de mulheres de várias partes do mundo que, de alguma forma e à contramão de seu tempo, não se deixaram calar e lutaram pelo acreditavam até o fim. Encontramos nas 15 biografias ilustradas, que são totalmente diferentes entre si (seja no sentido tempo e espaço ou até mesmo culturalmente falando), três coisas em comum: força, coragem e determinação para ser o que se quer.

Antes de iniciar a leitura, confesso ter ficado em dúvida se esse livro conseguiria se destacar daquele padrão de livros que já conhecemos sobre pessoas notáveis. Eu sei que esse é um assunto muito interessante e importante de ser retratado para, dentre outras coisas, dar mais visibilidade a pessoas muitas vezes esquecidas mas que tiveram sua importância de alguma forma (e, na maioria das vezes, não receberam o devido reconhecimento na época). O problema é que eu via sempre as mesmas pessoas nesses livros. Minha expectativa era alta para descobrir se "Ousadas" conseguiria se destacar nessa "multidão" de alguma forma.

Uma coisa pude afirmar desde o início da leitura: O projeto gráfico é maravilhoso! O traço de Penélope, com toda sua simplicidade, me encantou e a escolha da paleta de cores, que é diferente para cada história, me inspirou MUITO e deu um impressionante toque único a cada biografia, reforçando a importância e a originalidade de cada uma. Os desenhos são muito fáceis de entender e a estrutura é bem organizada. Portanto, é uma HQ muito tranquila de ler (mesmo para quem não está acostumado a ler histórias em quadrinhos).

Também gostei muito da escolha das mulheres a serem homenageadas. A curadoria de Pénélope foi excelente ao elencar mulheres fortes de vários países e épocas diferentes e que se destacaram nos mais variados âmbitos. Seja mulheres outrora oprimidas pela religião, pelo machismo ou pelo preconceito; seja mulheres que mudaram o mundo inteiro, o mundo dos que as conheceram ou simplesmente o próprio mundo (mas que, posteriormente, acabaram por mudar o mundo de muita gente ao servir de inspiração e exemplo).

Todas 15 histórias me tocaram de alguma forma e me levaram à reflexão em algum ponto. Mas é inevitável que algumas mexam com a gente de forma mais profunda que outras. Vou citar rapidamente 4 biografias que me comoveram muito para dar um gostinho a vocês:

 Temple Grandin: Americana autista que revolucionou práticas de manejo para o tratamento racional do gado.

 Sonita Alizadeh: Afegã que encontrou no rap a voz para gritar pelas mulheres de seu país, que são vistas como mercadoria e forçadas a se casarem muito cedo com homens bem mais velhos e desconhecidos.

 Phoolan Devi: Indiana, nascida mallah (casta dos pescadores, uma das mais baixas). Foi obrigada a se casar com 10 anos e sofreu diversos abusos até ser jogada à margem da sociedade, sofrer mais abusos e entrar em uma gangue de bandidos para buscar vingança a todos que lhe fizeram mal.

 Frances Glessner Lee: Inconformada com o destino que lhe foi imposto desde cedo (casar, ter filhos, cozinhar e fazer artes manuais), resolveu usar as "coisas que mulherzinha" que aprendeu a vida toda para reinventar a medicina legal e aprimorar os métodos da polícia investigava nos Estados Unidos. 

Minha forma de ler esse livro foi em doses homeopáticas, ora para não acabar logo (haha') ora porque precisava digerir certas histórias antes de prosseguir. Algumas biografias são mais pesadas por retratarem todo o abuso que algumas das revolucionárias citadas sofreram. Entretanto, a narrativa do livro é muito fluida e a autora soube colocar uma pitada de humor aqui e ali que deu certo para balancear com as partes mais densas.

Acredito, também, que o formato de história em quadrinhos deu um toque muito especial à obra uma vez que esse estilo, ao mesmo tempo que torna a experiência mais leve e descontraída, ajuda a nos aproximar e a nos apegar mais às personagens e submergir na narrativa.

Em "Ousadas #2" conhecemos a história de 15 mulheres que buscaram a mudança e fizeram a diferença, lutando pelo que acreditavam até o final. Conhecer esses relatos me inspirou a trilhar meus objetivos com ainda mais afinco e continuar firme no que acredito independente do que as pessoas dizem. Virei a última página desejando desesperadamente o primeiro livro da duologia (como se trata de biografias que não tem relação direta entre si, não tem problema ler os livros ou as histórias fora de ordem).

Impossível terminar essa HQ sem desejar (reler) ter a coragem dessas mulheres. Impossível também não querer, na mesma hora, sair por aí lutando bravamente por alguma causa e mostrar ao mundo que nós mulheres também importamos, que somos fortes e que temos, mais que nunca, voz (obrigada a todas as mulheres que lutaram antes de nós para que pudéssemos ter hoje mais espaço).

Não devemos nos deixar calar: seguiremos os exemplos das quinze mulheres de "Ousadas" e continuemos perseguindo nossos sonhos e lutando pela igualdade que merecemos!

Tanto pelas histórias quanto pelo projeto gráfico, virou meu xodó!

Ousadas #2

Pénélope Bagieu

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Sobre a autora


 Pénélope Bagieu
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Nasceu em Paris, em 1982. Estudou cinema de animação na Ensad e fez uma passagem pela Central Saint Martins de Londres. De volta a Paris, cria em 2007 o Ma vie est tout à fait fascinante (minha vida é realmente fascinante), um blog ilustrado no qual expunha sua vida cotidiana com um humor e uma graça que acertavam no alvo. Com publicações do blog em forma de livros, seu sucesso se expandiu para as livrarias. Hoje, Pénélope faz sucesso por todo o mundo com diversas publicações, entre elas a graphic novel Uma morte horrível, publicada no Brasil pela Nemo em 2016 e a série Ousadas, que já vendeu mais de 200.000 exemplares apenas na França. Em 2019, Pénélope Bagieu foi vencedora do Prêmio Eisner - um dos mais importantes para histórias em quadrinhos.

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