Resenha Literária Sombra e ossos Leigh Bardugo

Autora: Leigh Bardugo | Título Original: Shadow and Bone | Editora: Gutemberg | Ano: 2013
Páginas: 288 | País: Estados Unidos | Skoob: Adicione | Compre: Amazon

Sinopse: Alina Starkov nunca esperou muito da vida. Órfã de guerra, ela tem uma única certeza: o apoio de seu melhor amigo, Maly, e sua inconveniente paixão por ele. Cartógrafa de seu regimento militar, em uma das expedições que precisa fazer à Dobra das Sombras – uma faixa anômala de escuridão repleta dos temíveis predadores volcras –, Alina vê Maly ser atacado pelos monstros e ficar brutalmente ferido. Seu instinto a leva a protegê-lo, quando inesperadamente ela vê revelado um poder latente que nunca suspeitou ter. A partir disso, é arrancada de seu mundo conhecido e levada da corte real para ser treinada como um dos Grishas, a elite mágica liderada pelo misterioso Darkling. Com o extraordinário poder de Alina em seu arsenal, ele acredita que poderá finalmente destruir a Dobra das Sombras. Agora, ela terá de dominar e aprimorar seu dom especial e de algum modo adaptar-se à sua nova vida sem Maly. Mas nesse extravagante mundo nada é o que parece. As sombrias ameaças ao reino crescem cada vez mais, assim como a atração de Alina pelo Darkling, e ela acabará descobrindo um segredo que poderá dividir seu coração – e seu mundo – em dois. E isso pode determinar sua ruína ou seu triunfo.

Alina e Maly são dois órfãos das guerras da fronteira que foram encontrados ainda crianças e levados à propriedade do Duque em Keramzim para serem cuidados, criados e alfabetizados junto com centena de outras crianças na mesma situação. Sem pertences, dinheiro, lembranças dos pais ou da vida antes de chegarem à Keramzim, a única coisa que eles têm é a amizade um do outro.

O tempo passa e eles, já maiores de idade, se distanciam e começam a seguir caminhos e fazer escolhas diferentes. Alina resolve aprender cartografia e Maly vira um rastreador no Primeiro Exército. Até que um dia, o regimento militar do qual fazem parte é escolhido para atravessar a Dobra das Sombras: Um lugar obscuro onde vivem criaturas horripilantes, famintas por carne humana. Alina tem um mal pressentimento, uma inquietação gigantesca sobre a ida à Dobra... mas o que ela não esperava é que lá seria revelado um dos maiores segredos sobre si: ela possui um poder que jamais estimou ter.

Em "Sombra e Ossos", Leigh criou um rico universo. É um livro bem estruturado e riquíssimo em detalhes (às vezes, rico até demais). A história se passa na região da Rússia - apesar disso não ser citado no livro - e é inspirado no folclore local, como percebemos ao ler e olhar as capas (durante a narrativa, há muitas palavras em russo e algumas não são traduzidas, o que confesso ser um pouco chato). Também cita alguns costumes do país, como a bebida Kvas, festas típicas e costumes religiosos. Mas é importante dizer que, apesar das referências, esse não é o foco da obra, de modo que esse não é um livro que  proporciona total imersão na cultura russa. Portanto, se é isso que você está esperando, vai se decepcionar.

A trama toma diversos rumos diferentes do que eu imaginava no começo, e mesmo assim a  autora soube desenvolvê-la e manter o interesse. Não senti, em momento algum, que ela ficou perdida, forçou a barra, se enrolou demais em alguma passagem ou "encheu linguiça". Há certos clichês como há momentos bem parados no livro, sim. Mas eles acabam mostrando sua importância na história para a construção e auto descobrimento da personagem principal.

"Poucas horas antes, eu era uma garota assustada no meu caminho para o desconhecido, mas pelo menos sabia quem e o quê eu era." (Página 58)

Alina é uma personagem bastante crível no sentido de ser humana, e se vê, em vários momentos, questionando-se sobre empatia, ganância e piedade, coisas complicadas no país e universo que passa a viver quando descobre que é Grisha, ou seja, faz parte de um seleto grupo que domina a chamada Pequena Ciência.

Os Grishas são pessoas que possuem certos dons, como conjurar água, fogo, luz, sombra ou ar, fabricar os melhores materiais (como aço Grisha), curar sérias feridas ou fazer o coração de uma pessoa parar com um simples movimento da mão. Há uma hierarquia entre eles e cada tipo leva um nome e usa uma roupa característica, de modo que o nível mais alto é o que o Darkling, o mais poderoso dos mais poderosos Grishas e que domina as sombras, ocupa. Ele é o único de seu tipo, e só ele pode usar as cores da escuridão.

"— Então eu sou prisioneira do Darkling?
— Você está sob a proteção dele.
— E qual é a diferença?
— Reze para nunca precisar saber." (Página 55)

"— Você me implorou por piedade uma vez. É essa sua ideia de piedade? - Outra bala ricocheteou a areia, a poucos metros de nós. Sim, pensei conforme o poder surgia dentro de mim, é a piedade que você me ensinou. (Página 280)

A muitos anos atrás, um antigo e ambicioso Darkling conhecido como Herege Negro criou a Dobra das Sombras, dividindo Ravka em duas. Mas o que o Herege não esperava é que essa espécie de faixa negra, onde sempre é noite pois a luz do sol não consegue penetrar, seria tomada por estranhas e horripilantes criaturas aladas que têm fome de carne humana. Além disso, a criação da Dobra causou vários outros grandes problemas, pois as terras naquele local eram as mais fertéis do país e muita coisa importante ficou do outro lado, de forma que a capital de Ravka ficou praticamente ilhada já que ao norte e ao sul há países rivais, tornando impossível contornar a Dobra através deles. O livro gira em torno de uma grande questão:

Acabar com a Dobra ou descobrir um meio de torná-la útil?

"Os Santos sabiam que eu tinha um monte de razões para temer à Dobra (...) mas havia algo mais, um sentimento profundo de mal-estar que eu não saberia nomear." (Página 21)

"De início, foi como flutuar dentro de uma espessa nuvem de fumaça, mas sem o calor ou cheiro de queimado. Os sons pareceram amortecer, e o mundo ficou em silêncio. Eu assisti aos esquifes à nossa frente deslizarem para a escuridão, sumindo de vista um depois do outro. Percebi que não podia mais ver a proa do nosso esquife e, em seguida, nem a minha própria mão na balaustrada. Olhei para trás, por sobre meu ombro. O mundo vivo tinha desaparecido. A escuridão caiu ao nosso redor, negra, leve e absoluta. Estávamos na Dobra." (Página 34-35)

Confesso que achei que faltou maior explicação sobre algumas coisas. Gostaria que a autora tivesse se aprofundado mais no atual Darkling,

Também senti enorme falta de maior exploração do poder da garota. Ela é muito poderosa para uma certa questão que o livro levanta, mas tirando isso, mal consegue se defender (uma boa analogia à lei da oferta e procura, rsrs). Entendo que vamos descobrindo tudo junto com Alina, que pouco sabe também - e esse é um dos preços que pagamos quando lemos livros em primeira pessoa - então provavelmente tudo isso será melhor desenvolvido nos próximos livros (pelo menos espero que seja).

"Uma coisa se destacou para mim: a palavra que os filósofos usavam para descrever as pessoas nascidas sem dons Grishas era otkazat'sya, "o abandonado". Essa era outra palavra para órfão." (Página 126)

"— Eu não sou o que você pensa que eu sou. - Sussurrei em desespero. O Darkling se aproximou de mim e disse, sua voz tão baixa que só eu podia ouvir: — Duvido que você tenha a mínima ideia do que é." (Página 53)

 "Abri minhas mãos e a luz floresceu direto de mim, preenchendo a sala iluminando as paredes de pedra (...). Ela me envolveu, resplandecendo com calor, mais poderosa e mais pura do que nunca, porque ela era toda minha. Eu queria rir, cantar, gritar. Finalmente havia algo que pertencia total e completamente a mim."  (Página 152)

Na trama conhecemos Malyen Oretsev, o melhor amigo de Alina e que cresceu com ela no abrigo de órfãos em Keramzim. Ele foi o personagem que eu menos gostei em toda a trama. Desde o início ele não me desceu, assim como o romance do livro, de modo que foi muito, muitíssimo difícil crer no envolvimento dele com Alina (o que não é spoiler, já que está na sinopse). Não dá para sentir química alguma, sabe? Formam um casal para lá de sem sal, por isso torci contra. Eu ainda não sei se meu desgosto com o possível casalsinho brotou devido a repetição daquele clichê de "amigos que se apaixonam", mas ele existe e é real.

"O que é infinito? O universo e a ambição do homem." (Página 145)

Eu gostei muitíssimo da escrita da autora. O livro flui muito bem, mesmo com as observações citadas no começo e ao longo da resenha. É nítido o cuidado da autora em cada palavra, em cada capítulo e em cada acontecimento. Foi uma leitura realmente prazerosa e que me prendeu bastante. Quero muito ler os próximos volumes para entender mais sobre esse universo e saber o desfecho da trama. 

Eu realmente amo a capa desse livro, as combinações de cores e os elementos que a compõe, que fazem parte da história. A edição da Gutenberg está bem bonitinha. Todos os começos de capítulo são personalizados e há um mapa de Ravka e seus arredores, além de uma lista com a hierarquia Grisha e com o nome de cada tipo.

As duas únicas reclamações que tenho são quanto a diagramação: acho as margens extremamente largas e eu, que sou uma pessoa muito visual, fiquei bastante tempo incomodada com isso no começo (ainda mais que, caso as margens fossem normais, economizaria bastante folhas). Não sei vocês ou eu que sou muito chata, rsrs, mas eu odeio quando livros sinalizam fala com aspas ao invés de travessão. Sério mesmo, desanimo 40% de ler o livro apenas ao abri-lo e perceber isso. Por fim, não lembro de ter visto erros de português.

Infelizmente eu tive que cortar muita coisa dessa resenha para não dar spoilers, mas felizmente poderei explorá-las no post sobre o próximo volume, "Sol e Tormenta".

Fazia um tempo que um livro do gênero me animava tanto. 4 novelinhios!

Sombra e Ossos

Leigh Bardugo

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Sobre a autora


 Leigh Bardugo
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Leigh Bardugo nasceu em Jerusalém, foi criada em Los Angeles e graduou-se na Universidade de Yale. Agora vive em Hollywood e se entrega ao seu gosto por glamour em sua outra identidade profissional, L.B. Benson, como maquiadora artística. De vez em quando, ela também canta com sua banda, a Capitain Automatic. Seu primeiro romance, Sombra e Ossos (Shadow & Bone), é um Best Seller do The New York Times, foi eleito como um dos melhores livros do ano pela Amazon e teve seus direitos comprados pela Dreamworks. Leigh foi considerada uma das seis melhores autoras estreantes de 2012 pelo comitê New Voices, da American Booksellers Association. Também ganhou uma indicação ao Abrahan Lincoln Award e à Indie Next List Selection.

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