Resenha Literária O que Alice esqueceu Liane Moriarty

Autor(a): Liane Moriarty | Título Original: What Alice forgot | Editora: Intrínseca
Ano: 2018 | Páginas: 416 | Skoob: Adicione | Compre: Amazon

Sinopse: Alice tinha certeza de que era feliz: aos 29 anos, casada com Nick, um marido lindo e amoroso, aguardando o nascimento do primeiro filho rodeada pela linda família formada por sua irmã, a mãe atenciosa e a avó. Mas tudo parece ir por água abaixo quando ela acorda no chão da academia... dez anos depois! Enquanto tenta descobrir o que aconteceu nesse período, Alice percebe que se tornou alguém muito diferente: uma pessoa que não tem quase nada em comum com quem ela era na juventude e, pior, de quem ela não gosta nem um pouco. Ao retratar a vida doméstica moderna provocando no leitor muitas risadas e surpresas, Liane Moriarty constrói uma narrativa ao mesmo tempo ágil e leve sobre recomeços, o que queremos lembrar e o que nos esforçamos para esquecer.

Faz tempo que eu tinha muita curiosidade em ler os livros da autora australiana Liane Moriarty. Quem é ligado no meio literário com certeza já ouviu falar de pelo menos um livro dela. Resolvi começar com "O que Alice Esqueceu" pois achei a sinopse muito interessante, principalmente o fato dela perder a memória e ter que aprender a viver a "nova vida" que tem agora. Impossível não pensar como seria se acontecesse conosco. 

Imagem: Freepik

Alice tem 39 anos mas acha que tem 29. Isso porque sofreu um acidente e perdeu parte da memória, mais exatamente a memória correspondente aos seus últimos 10 anos de vida. É impossível não simpatizar com a Alice ao passo que ela vai descobrindo o rumo que sua vida  tomou e a pessoa que se tornou.

" — Quantos anos você tem, Alice?

— Vinte e nove, Jane — respondeu ela, irritada com o tom dramático da outra e sem entender aonde queria chegar. — A mesma idade que você.

Jane se afastou, olhou para George Clooney com uma expressão triunfante e disse:

— Acabei de receber o convite da festa de quarenta anos dela.

Este foi o dia em que Alice Mary Love foi à academia e, num descuido, perdeu uma década de vida."

"— Mas todos vocês conhecem Alice. Ela parece um bull terrier quando enfia uma coisa na cabeça.

Todos riram de novo, concordando. Um bull terrier? Como ela podia ter mudado tanto nos últimos dez anos? Alice estava mais para um labrador. Morria de vontade de agradar e era um pouco boba."

É uma leitura muito leve, fluida e muito divertida. Em vários momentos dei risada com as situações em que a protagonista se colocou, principalmente por ela voltar a ter a maturidade que tinha 10 anos antes, quando estava grávida, comprando uma casa e no início de uma vida conjugal, ou seja, ainda não tinha passado por muita coisa que a fez amadurecer, endurecer e perder toda a graça que há na irreverência e inocência da juventude. O passar dos anos nos torna cada vez mais difícil de sermos amados?

"— O que eu posso comer, mãe? — perguntou.

Alice olhou vagamente ao redor, em busca da sua mãe.

— Mãe! — exclamou Tom.

Alice se sobressaltou. A mãe era ela."

O livro é bem extenso com suas 416 páginas e confesso que, em certa altura da narrativa, me perguntei onde aquilo iria chegar. O fato é que não estou acostumada com o gênero "drama familiar", no qual o intuito principal é resolver conflitos de família e pronto. Eu sei que a grande questão do livro é: Alice vai recuperar a memória e voltar a ser como antes? Ela vai se arrepender de todas as mudanças que fez em sua vida depois que perdeu a memória e voltou a a ter a personalidade de quando era jovem? Mas apesar de muito interessante, o objetivo é muito menos instigante que um thriller, por exemplo, que não conseguimos parar de ler na ânsia de descobrir quem é o assassino no final.

Imagem: Freepik

Achei o livro muito longo, repleto de cotidiano e sem muitos pontos altos, o que deixou a leitura lenta e me fez demorar mais parar terminar. Mas ao mesmo tempo, entendo que tudo que aconteceu foi necessário para, de uma forma ou de outra, integrar a história, compor uma comparação entre antes da perda de memória e depois dela, localizar o autor na narrativa e dar sentido fatos que ocorreriam.

Talvez seja culpa da minha falta de costume com o gênero, como supracitado.

"Alice estava irritada. Ia ser cansativo se todo mundo a olhasse com espanto sempre que fizesse uma simples pergunta. Quanta coisa podia ter mudado em dez anos? Pelo visto, tudo."

"Se aquelas eram as memórias presentes em sua mente — memórias de um casamento maravilhoso se desintegrando, de se apoiar na parede do chuveiro enquanto chorava —, será que realmente queria recuperá-las?"

"O que Alice Esqueceu" aborda muitos temas, que vão desde infertilidade à divórcio.

Uma característica interessante é que, apesar de a protagonista principal ser Alice e o livro ser narrado em terceira pessoa, temos também o ponto de vista de mais duas pessoas: Elizabeth, irmã da Alice, por meio de passagens de um diário que ela escreve por recomendação do seu terapeuta e Frannie, avó da Alice, que mantêm um blog na internet e nele, além de contar sobre sua vida, retrata nos posts sua visão acerca da vida de Alice, de Elizabeth e da mãe das duas. Então temos vários arcos no livro e isso agregou muito à história, uma vez que assim os personagens secundários adquirem certa voz e conseguimos descobrir pelo que estão passando, coisas que muitas vezes os outros personagens não sabem, ou seja, se existisse apenas o ponto de vista que narra a vida de Alice, não saberíamos muito sobre Elizabeth e Frannie e o arco da Elizabeth principalmente é muito interessante (e me inspirou a escrever um diário também).

É impossível não tirar vários aprendizados e reflexões sobre o livro e pensar sobre a própria vida. Eu realmente quero me orgulhar de quem serei daqui a dez anos, mas não quero perder a doçura no caminho. Foi um livro muito gostoso de ler, principalmente porque eu nunca tinha lido nada parecido. Foi bacana ir descobrindo a vida dela junto com a personagem, que se sentia intrusa na própria vida. Apesar de não estar acostumada com o gênero e ter achado o livro longo, eu gostei muito, e foi uma leitura prazerosa e que realmente me rendeu muita diversão. E nossa, nunca torci tanto para um casal na vida! Arrisco dizer que o casal do livro provavelmente se tornou um dos meus casais literários favoritos.

Um livro muito bacana e que me rendeu bons momentos. Indico!

O que Alice Esqueceu

Liane Moriarty

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Sobre a autora


 Liane Moriarty
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Liane Moriarty (Sydney, Nova Gales do Sul, 15 de novembro de 1966) é uma escritora australiana. Depois de sair da escola, Moriarty se formou em administração e trabalhou com publicidade. Ela abriu sua própria empresa (que não foi bem sucedida), e depois passou a trabalhar como redatora de publicidade freelancer. Quando descobriu que sua irmã mais nova, Jacklin, estava prestes a publicar um livro, correu para o computador ardendo de inveja e escreveu um livro infantil, que foi rejeitado por diversas editoras. Porém, em 2004 fez mestrado na Macquarie University, em Sydney, e teve seu livro "Three Wishes" publicado como parte do curso e foi um grande sucesso. Hoje já lançou diversos livros, alguns foram ou serão adaptados para filmes e séries. Atualmente Liane reside em Sydney com o marido Adam e seus dois filhos, George e Anna. Quando não está escrevendo, pode ser encontrada lendo, pedindo café, sendo levada para um passeio rápido por seu labrador, esquiando como se fosse trinta anos mais nova do que é, se recuperando de lesões de esqui, conversando com velhos amigos sobre envelhecer e implorando para seus filhos ajudarem com tecnologia.  

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