28/09/2021

Resenha Literária
Mas tem que ser mesmo para sempre?
Sophie Kinsella


Autor(a): Sophie Kinsella | Título Original: Surprise Me | Editora: Record
Ano: 2018 | Páginas: 378 | Skoob: Adicione | Compre: Amazon
Mas Tem Que Ser Mesmo Para Sempre?Sinopse:  Juntos há dez anos, Sylvie e Dan compartilham todas as características de uma vida feliz: uma bela casa, bons empregos, duas filhas lindas, além de um relacionamento tão simbiótico que eles nem chegam a completar suas frases – um sempre termina a fala do outro. No entanto, quando os dois vão ao médico um dia, ouvem que sua saúde é tão boa que provavelmente vão viver mais uns 68 anos juntos... e é aí que o pânico se instala. Eles nunca imaginaram que o 'até que a morte nos separe' pudesse significar sete décadas de convivência. Em nome da sobrevivência do casamento, eles rapidamente bolam um plano para manter acesa a chama da paixão: de um jeito criativo e dinâmico, passam a fazer pequenas surpresas mútuas, a fim de que seus anos (extras) juntos nunca se tornem um tédio. Porém, assim que o Projeto Surpresa é colocado em prática, contratempos acontecem e segredos vêm à tona, o que ameaça sua relação aparentemente inabalável. Quando um escândalo do passado é revelado e algumas importantes verdades não ditas são questionadas, os dois – que antes tinhas certeza de se conhecerem melhor do que ninguém – começam a se perguntar: Quem é essa pessoa de verdade?...”. Um livro espirituoso e emocionante que esmiúça os meandros do casamento e que demonstra como aqueles que amamos e achamos que conhecemos muito bem são os que mais podem nos surpreender.
Sylvie está feliz com sua vida. Tem um casamento feliz, apaixonado, e sente estar em total sintonia com seu marido. Tem um emprego estável e que adora. Têm filhas gêmeas de cinco anos que ama mais que tudo nesse mundo e uma bela casa com quintal. Além disso, veio de uma família praticamente perfeita. Teve uma infância invejável, repleta de viagens, boa comida e luxo. Ela poderia dizer que tem a vida perfeita... Até que a morte de seu idolatrado pai faz tudo isso parecer sem significado. Ela tenta superar o luto e seguir em frente, mas como superar a morte de uma pessoa que tanto se ama?

E porque o marido dela sempre parece distante quando o assunto "pai" vem à tona?

Quando o casal vai até o médico refazer os exames para o plano de saúde, ato que parecia ingênuo e sem importância, deixa a vida de Sylvie de cabeça para baixo: segundo o tal doutor, eles são tão saudáveis que provavelmente vão viver mais de cem anos. E isso significa 68 restantes de vida conjugal. Sylvie e Dan praticamente entram em parafuso com essa descoberta, que acaba por colocar o casamento dos dois em risco.


Comecei a leitura buscando algo leve e sabia que encontraria isso em um livro da Sophie Kinsella, muito famosa pelos chick-lits e pelas narrativas bem humoradas. Mas nesse livro, em minha opinião, a autora saiu de sua zona de conforto que até então se encontrava no quesito escrita. Em "Mas Tem Mesmo que Ser Para Sempre?" conhecemos uma protagonista de trinta e poucos que já tem, aparentemente, a vida estável, um casamento estável e uma família funcional e isso é bem diferente dos outros livros da autora pelo que eu saiba. Sylvie é uma mulher insegura e, por vezes, muito imatura. Mas é toda essa insegurança e imaturidade que, na verdade, contribuem para o desenrolar da história.
"— Ah, vocês vão passar dos cem - Diz o Dr. Bamford, parecendo convicto. — Cento e dois, talvez. (...)  Bem, pensem só em como é boa essa notícia. - O Dr. Bamford vibra, deliciado — Vocês  devem ter ainda mais sessenta e oito maravilhosos anos de vida conjugal!
O quê? Meu sorriso meio que congela. O ar perece ter ficado turvo. Não tenho certeza se consigo respirar direito. Sessenta e oito? Ele acabou de dizer... Mais 68 anos de vida conjugal? Com Dan? Quer dizer, eu amo Dan e tudo, mas... Mais 68 anos? " (Página 20)
"E quanto folheio a correspondência, pego Dan percorrendo os olhos pela cozinha, como se estivesse vendo a casa pela primeira vez. Como se estivesse conhecendo sua cela na prisão (...) Ele está andando de um lado para o outro como um tigre, olhando os armários pintados de azul, carrancudo. O próximo passo é ele fazer um risco na parede. Começando o registro de nossa incessante e desgastante marcha pelos próximos 68 anos. " (Página 25)
A percepção tardia que, ao se casar, haverão muitos anos pela frente dormindo e acordando com a mesma pessoa ao lado é bem exagerada por parte do casal principal, e isso desencadeia planejamentos desnecessários e esforços desgastantes para que, na cabeça deles, eles consigam sobreviver a mais de meio século juntos. E são justamente esses esforços que começam a desgastar e colocar à prova o relacionamento antes tão sólido de Sylvie e Dan, trazendo desconfiança e segredos à tona.

Toda esse trama me fez refletir em como é importante viver o hoje e não nos preocuparmos apenas com o amanhã. Afinal, é no presente que se constrói o futuro. Às vezes, querer estar no controle de tudo, planejar demais, pensar demais pode ser a principal causa para que tudo dê errado.


Ademais, o livro levanta questionamentos sobre o que é o luto e como as pessoas passam por ele de formas diferentes e também sobre o que é o amor e o que esse sentimento nos torna capaz de sermos e fazermos. Explora, ao menos superficialmente, vários tipos de relacionamentos amorosos vividos pelos personagens: O amor que cega e imbecializa, o amor que ilude, o amor que vence tudo, o amor acima do tempo, o amor de pais e filhos... E claro, sobre como as pessoas lidam com aquele impactante "até que a morte os separe".
" — As pessoas crescem na direção da Luz? - Pergunta Tessa, daquele jeito gozador dela.
Estou prestes a dizer "claro que não, querida!" E compartilhar um olhar divertido com o professor Russell. Mas ele responde baixinho: —  Sim, minha cara. Acredito que sim.
Ah, ok. Quem diria. 
— Temos, é claro, muitos tipos diferentes de luz - continua o professor Russell, quase sonhadoramente. — Nossa luz pode ser uma fé, uma ideologia, ou mesmo uma pessoa, e crescemos na direção dela. 
— Nós crescemos na direção de uma pessoa? - Tessa acha isso hilário. — Na direção de uma pessoa? 
— Claro. - Os olhos dele focalizam algo além do meu ombro ponto e, eu me viro e vejo Owen vindo em nossa direção." (Página 212)
"Amar é achar uma pessoa infinitamente fascinante." (Página 337)
"— Acho que um relacionamento é como duas histórias - Digo, por fim, abrindo caminho com cautela em meio aos meus pensamentos. — Como... dois livros abertos, pressionados um contra o outro, com todas as palavras se misturam em uma grande e épica história. Mas, se pararem de se misturar... - Ergo a taça para dar ênfase. — Então voltam a ser duas histórias Independentes. E aí que acabou. - Junto as mãos, derramando champanhe. — Os livros se fecham. Fim." (Página 233)
Vamos falar sobre os personagens secundários?! O livro conta com outros arcos além da história principal, menos desenvolvidos, é claro, mas também interessantes e com personagens cativantes, como John e Owen, que eu realmente queria que tivessem aparecido mais, além de Tilda, Tobbie e Sra. Kendirck, personagens pelos quais me apeguei muito.
"— Ah, vida conjugal. - Tilda da bufa. — Você não leu as advertências sobre os efeitos colaterais? 'Pode causar dor de cabeça, ansiedade, oscilações de humor, Insônia ou a sensação generalizada de querer esfaquear alguma coisa'." (Página 168)
Falando em Sra Kendrick, o livro aborda, também, a importância de se valorizar a história, arte, museus e em como nos tornamos tão dependentes da tecnologia mas, ao mesmo tempo, em como ela é necessária se soubermos utilizá-la de maneira inteligente. Não precisamos viver como no século XIX, mas também não devemos nos tornar escravos da tecnologia. A chave de tudo é o equilíbrio.


"Mas tem Mesmo que Ser Para Sempre?" é um livro em sua essência simples, mas que me distraiu bastante. Gostei muito das pitadas cômicas que encontrei aqui e ali, a autora soube colocá-las, na maioria das vezes, de maneira inteligente de forma que não ficou maçante ou forçado. Após concluir a leitura, vi comentários de outras pessoas que leram esse mesmo livro e estão mais habituadas à escrita da Sophie. Pelo que dizem, esse é o menos engraçado de todos e foge aos padrões que os livros dela até então tinham. Bem, eu não li nenhum outro da Sophie, mas gostei bastante da narrativa e da escrita desse, então creio que vou gostar dos outros (Samanta Sweet Executiva do Lar está na minha TBR). 

Enfim, foi um bom livro para sair de um longo hiatus literário e para me distrair, pois tem aquele ar leve e meio descontraído que esse gênero literário apresenta. Dei 3 estrelas porque, apesar de ter gostado, não é um livro que me marcou, que eu vou me recordar ao pensar em um livro muito bom... achei que faltou algo na história para dar esse quê a mais, mesmo com as reviravoltas que acontecem.  
"— Vincit qui se vincit" - acrescentei, orgulhosa. — significa "vence quem se vence." (Página 64)
A diagramação do livro é excelente, do tipo que eu considero praticamente perfeita. Há um bom espaço entre o texto e as margens de todos os lado, nada exagerado. A fonte também é muito confortável de ler e não está nem tão grande, nem tão pequena; diria que está do tamanho ideal. Já a capa eu confesso que até acho bonitinha a combinação de azul e tons de rosa, porém não acho que combine com a história do livro.


Livro bom para passar o tempo. Em minha classificação, ganhou 3 novelinhos.

OBS: Contém cenas levemente picantes
e representatividade LGBTQIA+




Mas tem que ser
mesmo para sempre?
Sophie Kinsella



Sobre a autora

Sophie Kinsella
 Sophie Kinsella
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Madeleine Sophie Townley, conhecida como Sophie Kinsella, é uma escritora britânica. Cursou um ano de Música antes de trocar de curso e se graduar em "Política, filosofia e economia" pela New College, Oxford. Sob o nome Madeleine Wickham, lançou seu primeiro romance intitulado "The Tennis Party" e publicou sete livros, dos quais apenas três foram traduzidos para o português. Em 2000, enviou anonimamente para a própria editora na qual já havia publicado, sob o pseudônimo Sophie Kinsella, o primeiro volume da Série Becky Bloom, "Os Delírios de Consumo de Becky Bloom", que foi lançado e se tornou um sucesso. Só em 2003, com o lançamento de "O Segredo de Emma Corrigan", revelou sua verdadeira identidade. Desde então, seus livros já venderam mais de 40 milhões de cópias no mundo inteiro e foram traduzidos para mais de 40 idiomas.

Au revoir ♡

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