Sinopse: Madora tinha 17 anos quando Willis a "resgatou". Longe da família e dos amigos, eles fugiram juntos e, por anos, viveram sozinhos, em quase total isolamento, no meio do deserto da Califórnia. Até que ele sequestrou e aprisionou uma adolescente, não muito diferente do que Madora era, há alguns anos... Então, quando todas as crenças e esperanças de Madora pareciam sem sentido - e o pavor de estar vivendo ao lado de um maníaco começava a fazê-la acordar -, Django, um garoto solitário, que não tinha mais nada a perder depois da morte trágica de seus pais, entrou em sua vida para trazê-la à realidade. Quem sabe, juntos, Django, Madora e seu cachorro Foo consigam vislumbrar alguma cor por trás do vasto deserto que ajudou a apagar suas vidas?
Madora era apenas mais uma adolescente problemática com problemas familiares quando Willis apareceu em sua vida. Naquele momento, imatura, triste e drogada, ele mais parecia um príncipe salvando a pobre garota em apuros montado em um cavalo branco. E ela, sem pensar muito, largou sua vida - escola, cidade, amigos e família - para ficar com ele. Entretanto, Willis começa a apresentar um comportamento estranho. Até que ele sequestra uma garota. E a partir daí, Madora passa a temer pela vida das duas.
Eu iniciei esse livro com expectativas medianas (que, adianto, não foram alcançadas) e com uma ideia totalmente diferente da história. Acreditava que Madora se trataria de uma garota sequestrada e mantida à força em cativeiro, como o livro "O Quarto", mas não é bem assim em "Adeus à Inocência". Na obra de Drusilla Campbell, a personagem principal foi embora com o cara por livre e espontânea vontade... entretanto, permanece com ele devido às várias sessões de tortura psicológica que ele a submete sem que ela minimamente se dê conta de que está em um terrível relacionamento tóxico. Para terem uma ideia, Willis fazia Madora acreditar que era obrigação dela seguir as ordens dele, acatar o que ele impunha e suportar tudo que ele fazia, porque esse era o preço de ser amada! Nem consigo explicar o quanto senti raiva desse personagem! E pensar que tem pessoas na vida real que agem assim, manipulando as outras por meio do emocional abalado...
Madora criou, por Willis, uma grande dependência emocional e ele se aproveitou disso, usando o pai da garota e o relacionamento complicado com a família como tortura emocional e reforçador dessa dependência.
"Não me decepcione, Madora. Eu não sei o que faria se você me desapontasse." (Página 146)
"Ele nunca batera nela, nunca sequer a ameaçara, mas às vezes Madora sentia a possibilidade de violência fluir entre eles como uma corrente elétrica."(Página 28)
"— Você está com medo do que vai acontecer se você se afastar dele. Eu vou lhe dizer o que vai acontecer: você vai se libertar."(Página 174)
O narrador em terceira pessoa com capítulos intercalados entre os personagens nos permite saber um pouquinho do ponto de vista de cada um. Eu aguardava ansiosamente os capítulos de Willis para tentar decifrá-lo. E a cada capítulo eu ficava mais confusa e tinha mais certeza que ele, definitivamente, precisava de algum tratamento psicológico. Difícil saber se ele realmente achava que uma boa boa pessoa, que estava fazendo o bem ou se ele apenas tentava firmemente se convencer disso a todo instante.
"Você pode ter o mundo, Willis. Algumas mentiras bem contadas e um belo rosto vão lhe dar tudo o que você quiser."(Página 200)
Quando o outro personagem principal, Django, um pré-adolescente vivendo o luto, aparece, incialmente achei seus capítulos entediantes. Porém, a partir de certa altura da história vão ficando mais interessantes. Com Django, Madora tem uma relação totalmente diferente do que com Willis. Eles possuem uma forte conexão emocional devido às dores que os sentem em silêncio e por isso se reconhecem e se unem.
"Quanto mais conhecia Madora, mais sentia que havia nela solidão e tristeza que correspondiam aos mesmos sentimentos que havia nele e que, quando conseguisse encontrar uma maneira de confortá-la, isso faria sentir-se melhor também. Ele não sabia como faria isso, mas estava determinado a inventar algo mais cedo ou mais tarde.(Página 149)
"Se havia uma coisa que Django aprendera nas últimas semanas era que coisas indizíveis podiam acontecer com as pessoas que ele amava numa velocidade aterrorizante. "(Página 159)
Django, para mim, foi o melhor personagem da história. Vivendo no caos da pré-adolescência, perde seus pais e vai morar com uma tia que nunca viu na vida. Mesmo assim, a curiosidade e perspcácia do garoto me encantou. Ao mesmo tempo que o livro trabalha a amizade entre ele e Madora, também trabalha o relacionamento dele com a tia Robin, a adaptação à nova vida, além de retratar a dor que ele sente, o luto, a saudade dos pais e a sensação de não pertencimento em mais nenhum lugar no mundo.
"— O que você gosta de comer no jantar? - perguntou a Django. Ele murmurou algo que soou como qualquer uma das respostas insolentes das quais reclamavam seus amigos pais de adolescentes. Mas Django não era insolente. Robin tinha pouca experiência com crianças, mas reconhecia a doçura quando a encontrava. E a confusão e dor, essa tristeza profunda que, fosse um lago, seria sem fundo."(Página 56)
"Embora pensar nela lhe trouxesse uma tristeza quase insuportável, era ainda pior o medo que ele sentia de parar de lembrar-se dela. Ele queria lembrar-se de tudo que ela já dissera, seu tom de voz e a forma como ela olhava enquanto falava, mas ele já a sentia partindo, desvanecendo-se, como um sonho que se esvai furtivamente no ar da manhã. Ou uma Sinfonia, sua orquestração rica e complexa decaindo gradualmente, instrumento após instrumento. Um dia, tudo o que restaria de sua mãe seria uma melodia triste de uma nota só e, finalmente, até esta desapareceria."(Página 148)
"Adeus à Inocência" é um livro com muitos personagens e poucas respostas. Senti falta de aprofundamento nos personagens secundários, pois alguns eram até interessantes e um pouco mais de desenvolvimento na história deles poderia ser acrescentador ao enredo e com certeza ajudaria a diminuir a sensação de buracos na narrativa, principalmente porque achei que faltou esclarecimento de muitas coisas que acabaram ficando subentendidas. Apesar dos pesares, eu, em alguns breves momentos, me vi presa no pequeno suspense acerca de Willis, que infelizmente não foi tão trabalhado quanto poderia.
Quando o livro caminhava para uma direção e as coisas começaram a acontecer, no capitulo seguinte tudo mudou abruptamente e a direção que a história tomou foi totalmente diferente, como se a autora tivesse simplesmente apressado o fim e pulado, devido a isso, uma grande parte da história. Isso prejudicou a fluidez da narrativa, que já estava arrastada e repetitiva e fez a obra perder alguns pontos comigo. Como citado, este livro possui uma carga emocional bem pesada e algumas coisas talvez sirvam de gatilho para algumas pessoas. Mas também é um livro que fala sobre a importância de confiar nos processos da vida e de seguir em frente, de se dar uma chance de ser feliz, de sair da zona de conforto e ter coragem e de encarar a realidade e se permitir crescer com com ela. Mas infelizmente, esse também é um daqueles tristes casos de livros com boa premissa mas com mal desenvolvimento.
Sobre a autora
Drusilla Campbell
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Drusilla Campbell morou em San Diego com seu marido, o advogado-poeta-professor Art Campbell, dois cães resgatados e quatro cavalos. Ela nasceu em Melbourne, Austrália, e se mudou para a Califórnia quando tinha seis anos. Antes disso, cruzou os Estados Unidos de trem e de carro com sua corajosa e engenhosa mãe e seu principalmente adorável irmãozinho. Cresceu no vale de Santa Clara, navegou o Oceano Pacífico três vezes, frequentou a San Jose State University e depois voltou a viajar. Drusilla lecionou em Melbourne, Londres e em um posto avançado na selva remota no Panamá, antes de se estabelecer e se casar. Enquanto morava em Washington, DC, ela fez mestrado em jornalismo de radiodifusão pela American University. Ela teve dois filhos, Rocky e Matt, e alguns netos. Os cães, os cavalos, a família e amigos e os livros de escrita a mantiveram feliz em um só lugar. Drusilla, romancista best-seller de personagens polêmicos, morreu pacificamente nos braços de seu marido, com quem compartilhou a vida por 45 anos, em 24 de outubro de 2014, cinco meses após um diagnóstico de câncer de pulmão.
Au revoir ♡
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