03/07/2020

Resenha Literária
Todo dia
David Levithan


Autor: David Levithan | Título Original: Everyday | Editora: Galera Record
País: Estados Unidos | Páginas: 280 | Ano: 2013 | Skoob: Adicione | Compre: Amazon
Todo DiaSinopse: Neste novo romance, David Levithan leva a criatividade a outro patamar. Seu protagonista, A, acorda todo dia em um corpo diferente. Não importa o lugar, o gênero ou a personalidade, A precisa se adaptar ao novo corpo, mesmo que só por um dia. Depois de 16 anos vivendo assim, A já aprendeu a seguir as próprias regras: nunca interferir, nem se envolver. Até que uma manhã acorda no corpo de Justin e conhece sua namorada, Rhiannon. A partir desse momento, todas as suas prioridades mudam, e, conforme se envolvem mais, lutando para se reencontrarem a cada 24 horas, A e Rhiannon precisam questionar tudo em nome do amor.
A não tem gênero. E nem um corpo. Passa a vida se "hospedando" em pessoas de sua idade, mas nunca fica mais de 24 horas em um mesmo corpo. Ele (ou ela? Não se sabe, porém trataremos no masculino pois foi como decidiram traduzir no Brasil) não sabe o que é, nem porquê ou como isso acontece consigo. E já desistiu de tentar descobrir faz tempo. Ele apenas segue a vida com suas limitações, dormindo num corpo, acordando em outro. Quando deixou de se questionar e resolveu aceitar sua condição, criou regras muito importantes para si:

1) Nunca interferir.
2) Seguir a rotina.
3) Não criar ou romper laços.

E tudo vai bem... até ele acordar no corpo de Justin e conhecer Rhiannon, com quem imediatamente sente uma conexão gigantesca, jamais experimentada. E A faz o que prometeu que nunca faria: começa a quebrar suas próprias regras para encontrá-la todo dia.


Logo que vi a sinopse desse livro, fiquei muito interessada na premissa dele. Estava doida para lê-lo desde o lançamento no Brasil, em 2013, mas só agora consegui, de fato, fazê-lo. Quem nunca se imaginou vivendo a vida de outra pessoa? Mas duvido que alguém já pensou como isso poderia ser complicado. Em "Todo Dia", A vive essa realidade - e sofre com as consequências dela. Acompanhamos de perto todos os questionamentos e desejos desse ser, que basicamente se resumem em poder ter uma vida normal, com preocupações normais: ter uma família, amigos, pessoas com as quais se pode contar sempre. Afinal, ele não conhece a estabilidade. Não sabe o que é estar preso à própria vida todo dia.

"Todo dia sou uma pessoa diferente.
Eu sou eu, sei que sou eu, mas também sou outra pessoa.
Sempre foi assim." (Página 7)

"Acordo. Imediatamente preciso descobrir quem sou. Não se trata apenas do corpo - de abrir o olho e ver se a pele do braço é clara ou escura, se meu cabelo é comprido ou curto, se sou gordo ou magro, garoto ou garota ou se tenho ou não cicatrizes. O corpo é a coisa mais fácil a qual se ajustar quando se  esta acostumado a acordar em um corpo novo todas as manhãs. É a vida, o contexto do corpo, que pode ser difícil de entender."(Página 7)
Vivendo apenas mais um dia comum em sua vida, que acontece sempre no corpo de outra pessoa, A se apaixona por Rhiannon, que não poderia ser mais desinteressante e sem graça. Não consegui me apegar, de forma alguma, à personagem. Faltou aprofundamento nela, o que dificultou a empatia. Creio que isso se dá ao fato de o livro lidar com muita informação ao mesmo tempo. Analisemos: além de tudo que acontece com A e sua busca pelo auto entendimento, há a história de cada corpo pelo qual ele passa a cada dia do livro (e ao total, durante as páginas do livro ele passa por nada menos que quarenta corpos!). Dessa forma, acaba não sobrando muito espaço para um aprofundamento melhor na garota. No fim das contas, ao mesmo tempo em que A é uma verdadeira incógnita, Rhiannon também acaba sendo.

Em resumo, não consegui me apegar ao casal. Não consegui sentir intensidade ou química alguma no romance entre eles, que é muito raso. Principalmente por parte da garota, que não me convence de forma alguma.
"Enquanto cochilamos, sinto uma coisa que nunca senti. Uma proximidade que não é apenas física. Uma conexão que desafia o fato de que acabamos de nos conhecer. Um sentimento que só pode vir da mais eufórica das sensações: a de pertencer a alguém." (Página 25)
"As lágrimas enchem os olhos dela. Eu a tomo nos braços. É a coisa errada a se fazer. Mas é a coisa certa a se fazer. Preciso ouvir minhas próprias palavras. A felicidade muito raramente faz parte do meu vocabulário porque, para mim, é tão efêmera." (Página 19)


Devido ao fato de A acordar nos mais diversos corpos, pertencentes a pessoas com as mais diversas personalidades, culturas, estilos de vida e orientação sexual, dá muito, MUITO espaço para o autor abordar os mais variados assuntos importantes, e David Levithan não perdeu essa oportunidade. O livro faz críticas sociais suaves sobre inúmeros assuntos, como vício em drogas, obesidade, relacionamento abusivo, homossexualidade, mudança de gênero, preconceito, religião, depressão, e muito mais. Esse foi um fato que eu realmente gostei no livro, pois o autor conseguiu explorar, mesmo que muitas vezes brevemente, vários assuntos importantes e isso enriqueceu o livro sobremaneira.

Em contrapartida, há pouco aprofundamento nas histórias dos corpos, que muitas vezes são muitíssimo interessantes. Ok, eu entendo que, devido a premissa do livro, é difícil desenvolver demais várias histórias paralelas, já que o foco principal é em A e Rhiannon (e A só fica um dia em cada corpo). Porém, confesso que, para mim, foi isso que sustentou o livro e o manteve interessante, sabe? Eu continuava a ler somente pelo interesse em saber quem A seria no dia seguinte e qual história esse corpo carregaria, e não por querer saber até onde chegaria o relacionamento dele com Rhiannon, que é o verdadeiro nicho da história.
"Explico para ela que os livros têm sido minha companhia durante todos esses anos, as constantes do dia a dia, as histórias ás quais sempre posso retornar, mesmo quando a minha está sempre mudando."
"As lágrimas estão aflorando em meus olhos, descendo pelo rosto. No início, não compreendo, afinal, não conheço ninguém neste recinto. Não sou nem nunca serei parte de algo assim. Sei disso há algum tempo, mas você pode saber de algo durante anos sem que isso realmente o atinja. Agora está atingindo. Nunca vou ter uma família para chorar por mim. Nunca vou ter pessoas sentindo em relação a mim o mesmo que sentem em relação ao avô de Marc. Nunca vou deixar o rastro de lembranças que ele deixou. Ninguém nunca vai me conhecer nem saber o que fiz. Se eu morrer, não haverá corpo, nem funeral para ir, nem enterro. Se eu morrer, ninguém além de Rhiannon, saberá que estive aqui." (Página 231)
Há algumas pontas soltas e questionamentos importantes no livro, inclusive mencionados desde a primeira página, que ficam sem resolução. E quando as respostas parecem prestes a vir à tona, isso simplesmente não acontece, o que me deixou bastante frustrada. Quando fiquei sabendo do segundo livro, me empolguei um pouco com a ideia de que ele traria as tão prometidas respostas. Porém, o segundo livro, nomeado "Outro Dia", nada mais é que a mesma história pelo ponto de vista de Rhiannon (obviamente com mais aprofundamento nessa personagem, que como citei não houve no primeiro livro). Ha também a continuação da história do primeiro livro, intitulada no Brasil como "Algum Dia". Blé... não quero ler nenhum deles, obrigada.

"Todo Dia" já conta com uma adaptação cinematográfica lançada em 2018 que ainda não assisti, mas que provavelmente assistirei em algum momento para comparar com a obra literária, mesmo que eu não tenha gostado inteiramente do livro (vocês também gostam de fazer isso?).


Apesar dos pesares, "Todo Dia" passa várias mensagens muito importantes, como a importância de amar as pessoas pelo que elas são, muito além de aparência. Nos faz refletir acerca de como vivemos nossa vida, sobre gratidão e sobre muitas outras coisas. Foi um dos livros que eu mais salvei quotes, e foi bem difícil selecionar alguns para esse resenha (queria colocar todos!).

Vamos falar sobre o design? Eu gosto muito da capa desse livro. Confesso ter me interessado na leitura por causa dela. Acho que, superficialmente, remete à premissa da história. Porém, olhando a capa e lendo a sinopse, eu esperava outra coisa... não esperava personagens adolescentes, sabe? Achei que a história seria, no mínimo, um New adult e não um Young Adult como é. Enfim... A diagramação está ótima, o tamanho da fonte é confortável e não lembro de ter encontrado erros gramaticais.


Bom. Ganhou 3 novelos!

OBS.: Este livro contém passagens LGBTQI+,
apesar de não ser focado nesse assunto.



Todo Dia
David Levithan



Sobre o autor

David Levithan

 David Levithan
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David Levithan (nascido em 07 de setembro de 1972, Short Hills, Nova Jersey) é um editor de ficção jovem americano adulto e autor premiado. Ele teve seu primeiro livro, Boy Meets Boy, publicado em 2003. Ele tem escrito inúmeras obras com personagens gays do sexo masculino, principalmente Boy Meets Boy e Nick and Norah's Infinite Playlist. Aos 19 anos, Levithan recebeu um estágio na Scholastic Corporation, onde começou a trabalhar na série The Baby-sitters Club. Dezessete anos depois, Levithan ainda está trabalhando para Scholastic como diretor editorial. Levithan é também o editor-fundador do PUSH, uma marca jovem-adulto da Scholastic Press enfocando novas vozes e novos autores..

Au revoir ♡

4 comentários:

  1. Oi, Polyana tudo bem? Que chato que o livro teve pontos que lhe desagradaram não é mesmo, contudo no geral ficou sendo um bom livro para ser lido. Gostei de a capa deste livro. Ótima resenha. Abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  2. Menina, eu tinha me esquecido desse livro. Uma vez eu li a sinopse e amei, mas simplesmente esqueci de coloca-lo na minha wish. Inclusive, me lembro até de já ter assistido ao trailer do filme baseado no livro.
    É legal que o autor tenha conseguido abordar inúmeros assuntos durante o livro, mas acho que isso acabou ofuscando a história do casal principal, aparentemente é muita informação sobre inúmeras pessoas que apenas emprestam seus corpos, talvez por isso você não tenha tido uma conexão legal com o casal principal.
    Enfim, amei a resenha.
    Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥

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  3. É, assumo que esse livro não me chamou taanta atenção assim. Não sabia que tinha um filme adaptado. Mas quem sabe um dê uma chance, né? xD

    Beijo!
    Cores do Vício

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  4. Oi Polyana! Depois que eu assisti a adaptação pro cinema desse livro, fiquei muito desanimada em conhecê-lo, porque não gostei do filme, acho que faltou alguma coisa para me deixa envolvida com a vida do personagem "A" ou realmente, esse filme não era para mim. Fiquei tão entendiada com o filme que nunca li nada sobre esse livro mas, agora lendo sua resenha fiquei muito interessada na história principalmente, pela parte da troca dos corpos e estou chateada que o autor não tenha focado mais nessa parte, porque romance a gente lê em outros livros.

    Polyana, te agradeço por me convencer a ler sua resenha e adicionar mais um livro na minha lista de leituras, fiquei interessadíssima nessa história, mesmo com os pontos negativos que você citou, acredito que vale a pena lê-lo quem sabe o autor explora mais sobre as trocas de corpos nos próximos livros néh?

    Viviane Almeida
    Resenhas da Viviane

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