22/07/2023

Resenha Literária
A Joia
Amy Ewing


Autor: Amy Ewing | Título Original: The Jewel | Editora: Leya | Páginas: 352
País: Estados Unidos | Ano: 2015 | Skoob: Adicione | Compre: Amazon

Sinopse: Joias significam riqueza, são sinônimo de encanto. A Joia é a própria realeza. Para garotas como Violet, no entanto, a Joia quer dizer uma vida de servidão. Violet nasceu e cresceu no Pântano, um dos cinco círculos da Cidade Solitária. Por ser fértil, Violet é especial, tendo sido separada de sua família ainda criança para ser treinada durante anos a fim de servir aos membros da realeza. Agora, aos dezesseis anos, ela finalmente partirá para a Joia, onde iniciará sua vida como substituta. Mas, aos poucos, Violet descobrirá a crueldade por trás de toda a beleza reluzente - e terá que lutar por sua própria sobrevivência. Quando uma improvável amizade oferece a Violet uma saída que ela jamais achou ser possível, ela irá se agarrar à esperança de uma vida melhor. Mas uma linda e intensa paixão pode colocar tudo em risco.
Imagine, caso seja menina, que ao "virar mocinha" invadem sua casa e te submetem a um exame. E com o diagnóstico, descobrem que você é uma garota especial, que chamam de substituta e tem de ser levada para um internato longe de sua casa e família contra sua vontade. Esta é a situação pela qual Violet Lasting passou. Mas, após quatro anos presa no Portão Sul, local onde as substitutas são confinadas e instruídas, ela pensa que na verdade as coisas não são tão ruins quanto parecida. Tudo bem, há o quesito estar longe da família, mas também há vantagens: ela recebe uma excelente educação que não conseguiria em casa; pode se vestir como quer; comer quanto e o que quiser; há eletricidade; pode-se dormir até tarde e não precisa trabalhar. Ela é treinada por anos e agora está prestes a embarcar para o Grande Leilão, quando será comprada por alguém da realeza e começará a vida como substituta.

Violet sabe que o papel das substitutas é realmente substituir as mulheres da realeza, servindo de "barriga de aluguel" e gerando os futuros herdeiros. Mas há muito mais coisas debaixo dos panos, e Violet não tem noção do que a espera pela frente e das descobertas sombrias que fará. E ela vai desejar, a cada dia mais, nunca ter nascido especial. Nunca ter nascido substituta.


Posso dizer que quando iniciei a leitura, eu estava como Violet: sem saber o que esperar. O livro já começa citando fatos, nomeclaturas e situações que só são explicados posteriormente. Como eu não li a sinopse, não fazia ideia do que estava acontecendo ou iria acontecer (e mesmo assim, ela não explica muita coisa). De início me senti perdida, mas depois percebi que durante a leitura, a autora vai soltando os fatos como quebra-cabeças, para tentarmos encaixar. Mas é piscar para perder. Vi muita gente que não entendeu/entendeu errado algum fato ou passagem e creio que seja por esse motivo. Ao mesmo tempo que isso instiga, pode fazer perder o interesse, o que é bem arriscado. No meu caso, só me deixou cada vez mais curiosa para entender tudo e acho que o fato de não ter lido a sinopse pela primeira vez foi mais que profícuo, porque tudo que aconteceu no livro me pegou de surpresa, diferente de quando lemos o resumo e já sabemos mais ou menos o que virá.

"Fui vendida. Sou propriedade. Nunca mais verei minha família, Portão Sul ou o Pântano de novo."
 
Em A Joia, a história se passa numa ilha circundada por um muro, que impede o oceano de atingir a cidade. Esta cidade, denominada Cidade Solitária, é dividida em cinco círculos interpostos em ordem decrescente. O maior e mais pobre é o Pântano, onde moram os operários que trabalham nos outros círculos. O quarto é a Fazenda, onde a comida é cultivada, seguido do terceiro, Fumaça, local onde ficam as fábricas. O segundo círculo é o Banco, onde os comerciantes têm suas lojas. E o primeiro, central, é a Joia. Lá vive a nobreza.
"O sonho de fugir é tão sedutor e impossível que algumas vezes penso que não passa disso, um sonho." 
À primeira vista, Violet me pareceu uma típica personagem de distopias. A pobre, injustiçada e corajosa que busca a mudança. Mas em algumas rápidas passagens ela se mostrou diferente. Sabe, nem a pessoa mais boa do mundo é boa o tempo todo. Somos humanos, nossa mente vai a um milhão e os mais inteligentes sabem que muita coisa que se passa por ela não deve sair pela boca. Temos incertezas, cometemos erros. Por isso, vivi um caso de amor e ódio com a personagem. Infelizmente, ela não amadurece muito durante o livro, como é de costume em livros com personagens dessa faixa etária. Ao mesmo tempo que eu sabia o que ela devia fazer, e ela também, Violet acabava fazendo o oposto, muitas vezes cometendo atos extremamente infantis. Me dava vontade - muita vontade - de entrar no livro e dar um sacode nela. Principalmente depois da metade, quando aparece Ash e eles rapidamente se envolvem. 


O romance de Violet e Ash é estruturado pelo fato de eles virem do mesmo lugar e não terem mais identidade. Na Joia, não há Ash Lookwood e Violet Lasting e sim o Acompanhante e a Lote 197, Substituta da Duquesa da Casa do Lago. Mas... eles se veem como as pessoas que são, não as que um rótulo os fazem ser e foi nesse solo que a sementinha do amor brotou.
"— Neste lugar que tira algumas partes de nós, você me faz lembrar de quem sou. Quem eu era." 
Ash foi outro personagem pelo qual não consegui ter um sentimento concreto sobre. Eu o achei muito raso e mal construído, assim como o romance dos dois personagens, que acontece de uma forma mais que estranha e nada convincente. Ao mesmo tempo, o envolvimento dos personagens deixou o livro um pouco mais interessante, pelo fato de ser algo altamente proibido. Assim, eles sempre estavam correndo perigo ao se encontrarem então rolava uma super tensão e agitação, sendo mais um ponto contribuinte para o aumento da vontade de saber logo o desfecho do livro. Mas... é algo desprezável. Não faria tanta falta se não tivesse ali. 

Quando Violet começa sua nova vida na Joia, ela percebe que as substitutas são vistas apenas como instrumento de gerar bebês perfeitos e nada mais. As descrições de como Violet se sentia a respeito dessa situação me fez pensar nos animais criados para a indústria alimentícia e também nos criados para reprodução. Assim como as substitutas, eles não são donos de si; passam a ser posse de alguém, que fazem com eles o que bem entende. São tratados como coisas: o que sentem e desejam não é levado em consideração. Não possuem identidade, são só 'mais um', além de serem submetidos a um terrível propósito - que não escolheram, claro - na vida. Não é muito triste? Parece viagem da minha cabeça,  mas não é. 
"Recordo a menina aflita cuja execução testemunhei. Talvez ela tenha tido a ideia certa. Talvez soubesse, por isso não sentia medo afinal. — Isso é o começo — ela disse. Talvez visse a morte apenas como outro caminho para a liberdade. "
"Ninguém merece ser privado da chance de fazer suas escolhas." 
Outra coisa que reparei é que, apesar de normalmente os homens terem o papel de maior importância na monarquia, na Joia isso não passa de fachada. A mulherada que manda, meu bem! Ouso dizer que a única coisa realmente importante que eles fazem é contribuir para a concepção dos herdeiros. O resto do tempo gastam fumando charutos e lendo. Neste livro, os homens da realeza são realmente patéticos.


Apesar da falta de explicação inicial - e intencional? - já citada, a  escrita da autora é super fluida e muito gostosa de se ler. O livro é narrado em primeira pessoa por Violet, e há uma riqueza impressionante de detalhes, que são bem explicados, ao mesmo tempo que a autora não se demora neles. Principalmente nas passagens em que Violet toca ou realiza algum presságio (poderes que as substitutas possuem; não vou me aprofundar nesse ponto para não tirar a graça de quem quiser ler o livro). 

"Esperança é algo precioso, não é? No entanto, não damos a ela o devido valor até que a perdemos." 

Confesso tê-lo lido pela capa me lembrar A Seleção, mas posso dizer com toda certeza são livros completamente diferentes - salvo terem como pano de fundo a realeza e serem distopias. Essa é uma das causas que me faz gostar tanto desse gênero literário. Por mais que possa parecer mais do mesmo, sempre há algo original. Diferente. O fato de não se tratar exatamente da nossa realidade faz com que haja sempre espaço para criar.

Não me arrependo da leitura praticamente no escuro (não literalmente, claro), pois foi uma surpresa muito mais que agradável. O livro termina com um gancho para o próximo volume, nos deixando praticamente sem fôlego e com grande desejo de já possuir o segundo livro em mãos e saber logo o que acontece ('A Rosa Branca' foi lançado na Bienal do Livro de São Paulo em agosto desse ano). Recomendo muito!


Excelente! Ganhou 5 novelos!





A Joia
Amy Ewing




Sobre a autora

Amy Ewing
 Amy Ewing 
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Cresceu numa pequena cidade de Boston, e foi sua mãe, uma bibliotecária, que despertou nela um profundo amor pelos livros. Amy mudou-se para Nova York em 2000 para estudar teatro na universidade do local. Trabalhou em restaurantes, escritórios, como babá e representante de vendas para um distribuidor de vinho antes de começar a escrever e hoje é uma autora Best-Seller. Ademais, é pós graduada em escrita para crianças pela New School.

Au revoir ♡

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